domingo, 5 de junho de 2011

O uso da Língua Brasileira de Sinais no cotidiano escolar





Historicamente falando, a utilização de sinais para interação humana surgiu nas comunidades pré-históricas como uma das primeiras formas de comunicação. Nas palavras da Professora Lúcia Reily: “Vygotsky (1987-1934) escreveu que os homens pré-históricos trocaram a comunicação gestual pela comunicação oral, pela palavra, quando começaram a utilizar ferramentas; trabalhando, com as mãos ocupadas, precisaram inventar uma alternativa para dialogar. Essa idéia ressalta a naturalidade da interação pela linguagem das mãos e, de certa forma, explica por que o movimento contrário (da linguagem oral para a gestual) é um processo reinventado na história dos grupos sociais com tanta freqüência, quando a situação exige” (REILY, 2004, p.113).
A partir do século XX, a Língua de sinais passa a receber status de língua. Como qualquer outra língua, ela também possui regionalismos, o que a legitima ainda mais como língua. Para que ocorra a efetiva inclusão educacional das crianças com surdez, é preciso que se estabeleça e reconheça a cultura social destes alunos como peça fundamental na construção do conhecimento. Assim, é imprescindível que se utilize as Línguas de sinais nas atividades de ensino-aprendizagem, pois cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional.
Ao contrário do que muitos imaginam, as Línguas de Sinais não são simplesmente mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias. Estas são formadas por diversos níveis lingüísticos, como: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. Assim, uma pessoa que entra em contato com uma língua de sinais, pode aprender outra língua, discutir temas sociais, políticos, e até mesmo produzir poemas e peças teatrais.
Originada da língua de sinais Francesa, no ano de 2002, foi reconhecida a Língua Brasileira de Sinais – Libras: “Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras, a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil” (LEI 10436/2002, art.1º, Parágrafo único).
Para conversar em LIBRAS, não basta apenas conhecer os sinais de forma solta. É necessário conhecer a sua estrutura gramatical, combinando-os em frases. O alfabeto manual, utilizado na datilologia, é um recurso fundamental utilizado quando não existe um sinal correspondente ao verbete português – como nos nomes e endereços. Por Datilogia, entende-se: recurso de comunicação com os surdos, em que se soletram as palavras usando o alfabeto manual.



Então, o que significa reconhecer a língua de sinais ?



É preciso que se reconheça o direito que as crianças com surdez têm de fazer o uso de sua primeira língua (Libras), durante o processo de aprendizagem. Considerando o sistema educacional atual, o reconhecimento da Libras traz conseqüências imediatas para a sociedade brasileira. Nas palavras de Skliar, “pôr a língua de sinais ao alcance do todos os surdos deve ser o princípio de uma política lingüística, a partir da qual se pode sustentar um projeto educacional mais amplo” (SKLIAR, 2005, p.27)
Além disso, a participação e cooperação dos pais nesse processo é fundamental. De acordo com a fonoaudióloga Sandra Refina Leite, é fundamental que a criança desenvolva habilidades visuais para se sentir incluída socialmente: “Aos pais cabe a tarefa de apresentar o mundo à criança, nomear pessoas e coisas, para que ela entenda a complexidade do mundo, e possa interagir sempre”.


Portanto, precisamos vencer os preconceitos relacionados à língua de sinais, estabelecendo-a como chave mestra na efetiva inclusão dos alunos com surdez, valorizando o contexto sócio-cultural desses aprendizes, respeitando a especificidade lingüística deles, e unindo mais uma vez escola/família/comunidade, para que possamos superar barreiras, acabar com a exclusão, e construir novos conhecimentos, numa verdadeira educação inclusiva.


REFERÊNCIAS:
Portal de Libras: http://www.libras.org.br/libras.php
REILY, Lúcia. Escola inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004.
SKLIAR,Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005.
Pedagogia: planejamento, processos pedagógicos, problemas contemporâneos. Universidade Metodista de São Paulo/São Bernardo do Campo. 1º semestre de 2011 – 3a edição
Lei de Libras, nº 10436/02:




Entrevista com a fonoaudióloga Sandra Refina Leite:


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